sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Café amargo

É uma extensão do corpo o café amargo. É o que há de mais bonito transformando a visão nublada em cor, contornando todos os detalhes e esquentando o coração que obviamente amanhece frio todo dia. É mais eficiente do que o seu bom dia, por exemplo, porque mesmo conseguindo te ler tão sinuosamente, a visão embaça e as coisas ao meu redor tornam-se tão intensas que me embriago. O café amargo me revitaliza! Parece choque ou algo parecido... Sei que tomo e vivo por um grandioso tempo que sim, é válido. Termina como qualquer outra coisa e então, me jogo nos braços da lentidão de novo. Me calo. Vejo a penumbra surgir e tampar o que antes era tão belo mais uma vez e num sentido oposto você também se cala. Por algumas horas do dia, alguns intervalos de solidão contínua, busco viver o tempo de maneira automática. Os passos, as falas, as risadas, os comentários e todo o resto da baboseira vira uma unidade. 
Por volta, mais ou menos, das 18h eu tomo mais um café amargo. O quinto do dia. Você de fato some mas não sinto falta. Sinto apenas a obrigação de me manifestar de alguma forma pra um certo alguém, não importa. Sob a quentura do liquido, sento-me aqui, abro o caderno e pego qualquer caneta. Note que não é um ato automático, mas... Pensado. Calculado involuntariamente, eu diria. Escolho um trilha qualquer e desatino a escrever, como isso aqui. É preciso parar e ficar por uns segundos com os cotovelos em cima da mesa enquanto as mãos se cruzam em frente a boca. Um pouquinho de reflexão, talvez. Não sei. Reflexão é muito forte pra algo tão... tão bobo como isso. Tenho que me apressar porque se o efeito do amargo passa, ligo-me no automático novamente e... Que diferença isso faz? Você continua distante e eu continuo sem saber o que anda te confortando. 
O café não é necessariamente tomado numa xícara. Aliás, eu não entendo o fetiche das pessoas por xícaras e palavras difíceis, pelo contrário, acho feio e absurdamente ridículo quem escreve pensando ser Machado de Assis. Escreva como o Marcelo Rubens, ué. Ah, acredito que aparentemente o meu fetiche sejam as vírgulas, não? Tenho consciência delas e lhe recomendo que ao me ler faça isso em voz alta. Isso, volte ao começo. Leia como se tivesse um cego ao seu lado porque eu escrevo falando e as minhas falas são pausadas... Imagine um silêncio nessa última reticência. É triste. Tenha essa hábito.
Enfim, o café é tomado ora em copo plástico ora em copo de isopor porque o que realmente me interessa é a passagem dele pelo final da língua. 

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