segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ô criança

Normalmente, sempre temos duas opções. Não importa se no início a vida pareça lhe dar dezenas delas, restarão somente duas e uma mais desgraçada que a outra. Ou você leva um tombo ou um tapa na cara. A consequência é infinita... É outra história e termina também nas duas opções: ou você saí e conversa, ou você fica e se aquieta. Ando preferindo a segunda opção, mas enfim.
Quando você começa a falar e percebe que já se encontra no final da Augusta e que a sua mesinha favorita de padaria passou despercebida, é porque a companhia é no mínimo agradável e assim foi, subindo e descendo com a bolsa apertada contra o peito e reparando nos sapatos alheios que a tarde desenrolou entre uma porção de batata frita, fumaça e cerveja. Um pouco de água também porque descobri que isso previne o câncer de garganta.
Uma pausa para lembrar a semana anterior e uma nostalgia maldita que trava a garganta enquanto eu ouço uma voz distante:

- E esse olhar de quem tá procurando alguém?
- Não procuro ninguém, só sapatos. Sapatos com solas de madeira que fazem barulhinhos batendo na calçada. Chapéus.

Parece-me que cada vez que eu leio algo diferente o enredo da realidade vai se encaixando no que leio e se adaptando a valsa, balançando pra lá e pra cá num ritmo bem marcado. Talvez uma sinfonia digna de Beethoven com seus altos e baixos, sei lá. Eu a encaro sorrindo, isso que é pior. E olha só que sacanagem, ela sorri de volta! Como uma tola para variar. Não conheço a senhora Vida, mas sei que me conheço e vou andando entre um tropeço aqui e outro lá. A coisa toda roda como brincadeira e de repente me tira esse doce da boca. Tira não, arranca. Dane-se.

- Fernanda, se você não tivesse esse gostinho de anis a vida não seria a mesma. Você não seria tão você e esse teu charme não seria de nada. A tua graça é o mau humor.

Sou tida como mal humorada se não bastasse. Como ser mal humorada na companhia de uma pessoa que subindo as escadas da estação diz:

- Senhores com guarda-chuva são muito charmosos...

É gloriosa a saída da estação da Sé. Juro que é. No meio do caos, de pessoas desmaiando dentro do metrô e seres que te pedem um cigarro com tom de ameaça, o céu azul parece falar mais alto. Posso soar como besta, mas o céu vai ampliando-se diante de tudo isso. Vai crescendo até você alcançar o topo. Parece a escadaria oposta do inferno ou a mesma coisa, ainda vou descobrir.
Um cinema aqui, um filme que só acaba quando você percebe que está longo e mais um café à dona. Minha cabeça não para de tirar conclusões. Eu até peço, por favor, para dar um tempo e sei lá, ir estudar ou pensar em coisas bobinhas como essas flores rodando na escuridão dos meus olhos fechados, mas não. Tem que continuar e daqui uma semana termina o inverno pra dar lugar à rua mais bonita do mundo que obviamente é a minha. Vai que ela me puxa de volta praquele lugar onde nada disso era parte da minha vida. Vai que eu volto na banca de jornal da esquina, vai que eu me apaixono pelo vizinho do prédio da frente, vai que apareça um coreto na praça. Não é de fato necessário que eu vá até São Paulo pra viver essa merda toda. A capital é totalmente controvérsia. Ela te inunda de informações, paixões e te coloca de frente pra mentira todo dia! Quem disse que você percebe? Até nota, mas depois do tombo e já está tarde. Mesmo com o metrô funcionando até a meia-noite, eu me nego a sair da cidade, a largar essa loucura toda...


É como se diz por ai, isso é só o fim. Ou início, depende do meu humor. 

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