quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Um dia qualquer

Meu estômago dói negando comida e sobrevivendo de ansiedade enquanto meus olhos pesam, fechando aos poucos, diante de mais uma manhã no lado b do mundo. Tudo deriva de ontem. Tudo deriva dele. Tudo sofre abstinência e remói meu organismo frágil, levando-me até as privadas da vida onde vomito o que não existe.


Tarde de um dia de semana livre, tempo tripolar como diz ele e nós passeando pela street lost! Digníssimo. O encontrei na porta de casa todo fresco, de ressaca e gripado para variar. O abraço dele me reduzia de um jeito que eu me perdia naquilo tudo, naquela recepção, enfim... Fomos almoçar. Quer dizer, ele foi almoçar porque eu não conseguia ingerir nada. A ansiedade tinha colocado um tampão na boca do meu estômago e eu queria apenas ficar ali escutando seus problemas e afins. Até tentei comer um camarãozinho ou outro, mas não consegui. Aquilo me enjoava de um jeito... E depois de eu ter estranhado o fato dele ter pedido suco para beber, fomos finalmente tomar nosso abençoado chopp! Era um dia lindo. Sentamos numa mesinha qualquer e falamos por horas sobre tudo! E não estou exagerando... foram horas de verdade. Falando dos amores, das aflições, dos problemas, da vida... Tentamos solucionar os problemas do universo e conversamos pelos cotovelos em meio a risadas e lamentações. Ele gesticulava, batia na mesa, interpretava cenas e eu num ritmo totalmente oposto só acompanhava. Ria muito, claro. Mas preferia ficar ali com aqueles olhos claros gigantes fazendo contraste com as olheiras na minha direção. Bem... O principal motivo de nós nos encontrarmos foi a música e ali não havia isso, então resolvemos descer a rua e voltar para casa. Lá sentamos no chão e ele tinha centenas de discos e uma vitrola que fazia um som absurdamente maravilhoso! Mais uma vez, passamos horas ali falando, dançando, comentando e xingando todos que passavam pelos nossos ouvidos além de criticarmos todas as capas possíveis.


- Olha esse neguinho!
- Que cara de querido, não?
- Mas ah... Queria tomar uma cerveja com ele! - Levando as mãos a cabeça.
- Presta atenção agora! No som do baixo! Olha que divino!
- AAAAH, neguinho filho da puta!
- Sim! São uns safados!


Olhávamos um pro outro e ríamos da situação. Horas antes estávamos numa mesa de bar reclamando da vida e de repente os tais neguinhos jogavam na nossa cara que a vida era linda! Que não tinha porque reclamar... O ritmo das músicas, as letras, nós ali naquele tapete cheio de cinzas e cerveja com almofadas nas costas que não confortavam em nada! Como era lindo!
Ouvimos de tudo. Foi uma bela sessão de discos e papo... Ele se empolgava a cada música que começava a tocar. Por um instante abaixamos o volume para ele pegar o violão e tocar "Girl" entre outras dos Beatles enquanto eu abaixava a cabeça e fazia de conta que lia algo.
Encerramos a sessão com Faces...


- Não tô achando o último disco deles!
- Deve tá debaixo do seu nariz, ô.
- Tá aqui o filho da puta!
- Põe ai.
- Sabe que podia rolar? Uma tour do Faces aqui na Augusta... Não seria lindo?
- Você não quer mais nada? 


Confesso que quase dormi no ombro dele por causa do frio, do som e dos braços... Era a vitrola e só. Nada de riso, nada de comentários, nada de falas... Just lonely heart
s club.

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