sábado, 19 de novembro de 2011

Ausente

É isso. Eu sei que não posso ver e nem detalhar o que quero, mas tudo se resume nisso. Se resume em você. 
Essa sou eu de coração leve e apertando a mão do amanhã como um trato, um acordo que diz mesmo em letras miudinhas que é só você e ninguém mais. Sei lá onde me meti dessa vez, não quero saber o que vem em seguida muito menos as inconsequências porque você sabe, sou teimosa.
Nessa noite ficarei esparramada no sofá folheando uma revista ou outra que mostra as pessoas sorrindo o tempo todo. Vou ligar o rádio e fazer qualquer outra coisa que não envolva você. Quero que passe despercebido hoje quando eu fechar meus olhos na cama. Sentirei apenas o cheiro do filtro vermelho, nada da sua pele... Nada que se refira à você, moço. 
O lugar é urbano e nem as buzinas cantam mais. Ainda continuo sentada, encostada no sofá e tentando me concentrar na letra da música que toca. Meu coração dói de saudade, de necessidade, de ver esse vazio ocupando tanto espaço sem deixar sequer um canto pra você.
Não tem ninguém aqui só uma porção de vozes que revezam a minha atenção, então decido calar todas elas. Coloco uma calça, calço as botas, pego um suéter e saio do ambiente porque ele todo suplica por você. Faz frio e cai aquela chuvinha fina. Pra onde eu vou, não importa. Talvez se eu encontrar uma dezena de rostos por ai, consiga manter meu amor em repouso. São Paulo é o lugar mais lindo que existe quando se trata de solidão e saudade. Você cumprimenta várias pessoas, esbarra em outras e só confirma aquilo que se passava enquanto estava lá, no sofá. A saudade e a minha impaciência.
Entro numa livraria, dessas grandes, e vou diretamente na parte de livros de bolso. Nas bancas de jornal que pesteiam a avenida também vendem, só que eu prefiro lugares grandes pra poder andar e ver todas as opções possíveis de aquisição. Ouço trovões, pela porta dá pra ver que agora caem gotas grossas e decido ficar por aqui para fazer algo digno desse tempo. Tem um café nos fundos da livraria, bem caro, mas tem. Sento com as pernas cruzadas e entortando a coluna, apoio os cotovelos e levo as mãos ao rosto. Suspiro. Por que você não está aqui comigo para me encorajar a ir embora debaixo da chuva? Eu iria sorrindo, de mão dada com você e devagar sem nenhuma preocupação, só com a certeza de que mesmo com os corpos frios nós iríamos estar juntos. Mas... voltando à realidade, eu olho pro lado e encaro a atendente como quem pergunta "onde está o que eu pedi?" e o café chega acompanhado de um biscoitinho vagabundo. Tiro o celular do bolso e lá está "1 nova mensagem". É você dizendo que sente saudade, enquanto eu fico julgando se amo ou odeio a tecnologia, penso se devo contar que sonhei na noite passada contigo e enfim, meto o celular no bolso de volta porque o café pode esfriar. 
Chuva cessou, o metrô tá logo ali e eu só comprei um café durante todo o tempo porque devo estar demasiadamente tola por você que não desocupa nem um pouco a minha rotina que perdeu todo o sentido com você distante daqui. Eu poderia te dar um beijo enquanto o sinal não fica verde para atravessar nessa avenida gigante. 
Vou fazer o que quando chegar em casa? Deve ser visível como as coisas andam sendo sem sentido desde que te tomei como meu. Se colocarem um quadro de mercado e um do van Gogh na minha frente, é capaz de eu achar a mesma coisa de tão esfumaçada que a vida se encontra. Voltamos. Eu, o sofá e o rádio. Eu, a camisa e as meias. Só. Posso dançar por aqui, não é mesmo? Talvez eu precise me movimentar um pouco mesmo que seja algo só com violão, sem batida nenhuma e uma voz apenas. Vou até a geladeira abrir o vinho e colocar as revistas no lugar, dançando com as meias pretas (aquelas 3/4) e sozinha, dançando e cantarolando qualquer coisa bonita... Sem você. 

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