segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Diabete

Subiram pelo lado ímpar da rua perdida, dois cidadãos sem donos e com as mãos ainda distantes. Ele a olhava como quem não acreditasse na realidade, enquanto ela sorria abaixando a cabeça e fazendo-se de fria. Por dentro sofria por não conseguir ter coragem de encará-lo, mas toda a saudade que sentira ao longo dos dias anteriores a motivava para fazer daquele diazinho feio, algo inesquecível. 
Sentaram-se numa dessas mesas de calçada. Ela nunca havia escutado tantas vezes alguém dizendo que lhe amava, assim... Olhando nos olhos. Cobrando atenção, até chegar ao ponto de esquecer que no dia seguinte tudo voltaria ao normal. Ele lamentava o fato de que ela certamente surtaria, e por sua vez, ela garantia que isso não aconteceria. Queria chorar... Virava o rosto pra rua e só se permitia ouvir as declarações mescladas em arame farpado. 
- Eu te amo demais. Sou louco por você, mas não posso te cobrar nada enquanto não morar aqui. Você também não pode me cobrar de alguma coisa. Não precisa me dar satisfação, só se for o caso de você começar a amar outro.
Ficou por segundos olhando fixamente para aqueles olhos pequenos que agora se negavam a encará-la. Soava como algo fácil. Imaginava como seria bonito amanhecer debaixo daqueles braços mais vezes, de preferência, constantemente, enquanto ele abria um sorriso convidativo. 
Apenas concordou com a cabeça, certa de que aquilo machucaria ainda mais na despedida. Determinada, o abraçou e disparou o primeiro "eu te amo" choroso no ouvido dele que a apertou ainda mais forte contra o peito. Se afastaram um pouco, ela alargou o sorriso no rosto e praticamente calejada, pegou-lhe pela mão e saiu em disparada pela avenida.
Estavam sintonizados e dispostos a fazer daquele único dia, uma amostra da eternidade que o esperavam...

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo conto! Bem triste, mas muito lindo!