segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A esta altura do campeonato

eu me sinto cansada de esperar pelo inusitado
de ter que fazer o mesmo roteiro todo santo dia
e me preocupar se no final da noite alguém se importa
ninguém
nem os taxistas, as prostitutas, o padeiro da esquina
você consegue se ver sozinho também?
eu tô de saco cheio de pagar 1 real pelo café na porta da faculdade
ter que manter uma imaginação saudável nas aulas de antropologia
fazer lista de música pra me distrair na viagem de trem
enquanto pessoas roncam, conversam, falam e falam
sem se importarem se incomodam ou não
eu enjoei do amor
de todas as consequências e itinerários que ele proporciona
das horas parada em frente à janela como se as ruas fossem vivas 
e você me exaustou
junto com toda a seleção do flamengo
ah... eu quero mais é que se dane todos os porquês da vida
se eu amei, se eu me fudi, se meu pai faliu
nada me apetece mais
desejo que o mundo me proporcione mais emoção e menos razão
também me pego perguntando: 
"quem foi o desgraçado que colocou esse cérebro em mim?"
e eu sou obrigada a acordar, escovar os dentes, dar bom dia ao porteiro
pra nada
as vózinhas que correm pelo bairro atrás do tempo perdido
o que diriam de toda essa minha lamentação?
que a minha bunda caia, que eu fiquei com rugas, que o tempo me marque
eu quero mais é me olhar no espelho e ver alguma novidade no reflexo
algo que desperte a cura do tédio que é esperar isso acabar
porque enquanto eu tô aqui reclamando
o pão vai saindo do forno
as putas se acumulam no centro
e os taxistas comem meu dinheiro

3 comentários:

nádia c. disse...

um dos melhores poemas que você já fez, pelo menos para mim.
Talvez por ser tão transparente e entregue...

nádia c. disse...

quer dizer, é um poema? Porque eu costumo escrever em "versos" mas nem sempre eu vejo como um poema, é sé a mania de dar 'enter', rs..

fernanda pacheco disse...

é um poema sim. é que eu não respeito muito a pontuação.
(bukowski foi uma má influência nesse sentido)