terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Respira e vai

Fiquei esperando a noite virar pra ver se confirmava aquilo que eu acreditava ser finalmente concreto. Passei horas certa que de que dessa vez as coisas iriam funcionar num compasso bem estruturado e então, eu chorei meu bem. Eu chorei porque tive pena de mim. Tive dó. Quis fazer do reflexo um corpo físico para me abraçar e contar a verdade. Não... Um pouco de calma, ao menos.
As horas passaram e eu ia conferir a cada instante se o que eu sentia era o correto, e de fato, estava tudo certo. Eu estava confiante, mas toda hora o cachorro latia ou alguém me chamava e quando eu tentava lembrar onde tinha parado, me assustava. Não poderia ser possível, pensei. Nunca será. Mais uma vez chorei, só que agora uma risada se mesclava e eu debochava de mim. Tola... Tantas pancadas para nada? 
Lavei meu rosto, teimei em concordar que você estaria feliz também, deitei no sofá e a noite durava mais que oito estações, com direito a chuva e sol. Por ali pendurei meus pés, meus olhos esperançosos e meu coração enquanto d'outro lado, eu me consolava. Tentava me convencer, me segurar, me fazer voltar para perceber que não... Não, pobre menina. Ainda não. Não entregue-se, por favor. Fique aqui quando despertar, pois o tombo será tão dolorido, igual ao das outras vezes e você sabe disso mais do que ninguém! 
Sai do cochilo ainda anestesiada, crente e com a ideia na cabeça de que era tudo uma questão de tempo. Era como se eu me observasse já desolada indo em direção ao fim. Eu já sabia inconscientemente que aquela dor infernal que prende a respiração e leva o olhar pro chão voltaria rapidamente. Ora, resisti por tanto tempo! Repito: tola. Ingênua. As coisas são contínuas, querida... As pessoas, ao contrário das coisas inúteis, não se reciclam para tornarem-se úteis. Elas são assim, incluindo você, e pronto. Pacote fechado.
Mesmo assim eu continuei caminhando em direção ao desgosto fiel à minha suposta certeza de que a armadura estaria firme e o chão sólido. Os sonhos seriam rascunhos da minha vida e você, meu bem, aspiraria todo o amor do mundo para compartilhar comigo e então, iríamos juntos para a próxima parada. Será que ela demoraria? Pouco me importava... Eu fui do mesmo jeito e tropecei no mesmo obstáculo novamente. Obstáculo não é a palavra correta... Talvez seja a rua sem saída. Me deparei com o muro levantado e dei de cara. Um sinal vermelho escandaloso ou uma advertência, tanto faz. Doeu do mesmo jeito.
Em questão de minutos, desatinei a chorar outra vez. Agora de raiva, mas não de você, muito menos de mim. Raiva do jeito que as coisas desabam. Não pedem licença, não avisam e é fato que eu tentei evitar a pancada, o que não foi possível porque eu estava perdida na escuridão dos teus olhos. A sua imagem sorrindo é a visão mais perturbadora do mundo, porque me obriga a aceitar que está tudo bem quando na real, o que está mais próximo de mim e a nossa distância. Os nossos problemas impostos pela realidade, os casos familiares, o trabalho maçante e tudo mais que ocupa o lugar do que é se sentir confortável com a sua presença. Paro de chorar para me indignar com essa imposição. Ou eu aceito ou eu aceito. O máximo que pode sobrar é o pior de tudo: a lembrança. Não temos sequer a opção de nos apagar como naquele filme...
Cruzo os braços, olho para baixo e sinto o frio da superfície tocar meus pés do mesmo modo que te sinto agora e como sinto todos os sentimentos bons que um dia rondaram meu coração... São frios. O que me leva a sorrir em seguida é a conformação. É isso ai, pequena... As coisas funcionam assim e é melhor sentir-se bem, apaixonada e encaixada no contexto às vezes do que nunca sentir o que te torna viva e disposta a cair de novo. Só não tenho coragem de chamar o próximo... Muito menos de encará-lo sabendo que a cena é repentina e leal ao manual.

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