sábado, 14 de abril de 2012

Da boemia ao café

Eu, como todo mortal, sinto às vezes uma vontade danada de beber cerveja e de ficar um pouquinho tonta mais puxada pra felicidade. Hoje por exemplo, decidi ir até a padaria aqui da esquina comprar uma latinha só pra matar a vontade, ainda mais depois de ler uma crônica do João do Rio chamada "Modern Girls" que ele conta que uma das garotinhas tomava chopp e enfim, isso não vem ao caso. É normal e compreensível o fato de que me desanima muito a ideia de ir até aquele ambiente cheio de gente falando alto e disposta a mexer com qualquer pessoa como eu só pra se situar diante dos demais homens primatas que cercam as mesas populosas, mas eu fui de qualquer maneira e sempre busco ir com uma aparência desgastada. 
Descendo a rua comecei a admirar, como de costume, o quão agradável é morar nesse bairro. As árvores fazem arcos rua abaixo e é tão fresco nas noites de calor como a atual. Por alguns minutos você chega a acreditar na falsa ideia de que ali só moram velhinhos bons de praça e senhoras que passeiam com os seus cachorros, mas na hora que você chega na bendita padaria tudo desmorona. Vale lembrar que a tal padoca um dia foi do meu pai, senhores. Pois é. Costumo dizer que meu primeiro emprego foi ali, aturando os bêbados pedindo maria-mole, gírias que na época eu desconhecia como o "passa régua!" (lembro que levei a sério isso, peguei uma régua e de fato, passei na nota do velho que me zombou pelo resto da semana) e as tentações que hoje em dia me obrigam a ir ao dentista com frequência. Veja bem, quando minha mãe me chamava pra ir até lá cuidar do caixa enquanto ela fechava as contas, eu tinha uns 14 anos. Eu era uma adolescente diante de chocolates, chicletes, doces, sorvetes e salgadinhos. Ora, o que mais poderia ser meu pagamento? Mesada? Não. Meu pagamento era pegar o que quiser depois de baixarem as portas e eu me fartava loucamente. Não engordei, felizmente, mas adquiri uma porção de cáries justificáveis. 
Agora, quase 5 anos depois, a padaria é de outro cara. Um típico gaúcho louro dos olhos claros que tem um filho até que bonitinho, mas com cara de santo. Quase um Michel Teló (me perdoem por isso). E aquilo ali é um inferno, como diz minha irmã caçula. Ela costuma ficar indignada por passar ali às 14h e já ver pessoas bebendo. Eu digo a ela que isso é normal e parece-me que a revolta nela aumenta ainda mais... Acho que um dia ela irá compreender. 
Confesso que fiquei na dúvida se comprava ou não uma cerveja e então, eu resolvi fazer um charme pra atendente. Perguntei se ela tinha tal cerveja e ela me disse que ficava na geladeira do outro lado. Fiz cara de preguiça e respondi com um "obrigada, mas não vou levar não". Ela foi esperta e buscou a cerveja como quem dissesse "agora não tem desculpa" e eu, obviamente, comprei. Latinha aberta, fui até o caixa "passar a régua" e lá estava o filho bonitinho do dono. Atreveu-se a dizer pra mim, como se me conhecesse há anos, que imaginava que eu não bebesse. Ri da ingenuidade, lhe disse o velho bordão "as aparências enganam" e sai por lá carregando mais duas sacolas com um óleo e um refrigerante. Anteriormente eu já estava meio eufórica pelo café que tomei no começo e no fim da tarde sem saber, pasmem, que hoje era o dia do café. 
A cerveja desceu em poucos goles, num caminho curto de volta à residência e numa questão de instantes eu logo fiquei como queria: um pouco tonta puxada pra felicidade. Dei até aula sobre a origem do nome "Florianópolis" (?) pra minha irmã revoltada. É normal o efeito do álcool surtir em mim com mais facilidade, mas confesso que nunca fiquei bêbada (eu pelo menos acredito que não haha), e então sempre sou obrigada a terminar o ritual com um café. Sempre sempre e sempre tomo uma xicarazinha pra dar uma despertada porque acreditem, além da cerveja bater com rapidez, a bendita me dá muito sono. 
Lá vou eu homenagear o dia do café mais uma vez. 

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