quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O coração é algo tão óbvio

a imagem é babaca, mas é só pra ilustrar


Daqui uma semana meu irmão passará por uma cirurgia no coração. Coisa boba segundo o cirurgião, um remendo de nada. Meu irmão tem o famoso sopro lá no órgão involuntário, medindo cerca 1,5cm e ele já nasceu com isso, como milhares de pessoas. Acontece que o meu irmão vai fazer 23 anos e esse buraco ingênuo já inchou um dos lados do coração -- no raio-x dá pra ver direitinho o estrago.

É normal.

O cirurgião responsável disse que o risco de acontecer o pior é menor que 1%, mas ele também disse que se o meu irmão não consertar esse defeito de fábrica, ele morrerá novo, como meu avô.

Repetindo: é normal.

Meu irmão leva uma vida saudável, pratica esporte, vive fazendo exames que até deus duvida e, resumidamente, é o meu oposto. Meu avô, que não operou, era assim também. Quando morreu não tinha nem cabelo branco. Eu lembro.

A questão aqui não é fazer uma espécie de “casos de família”, e sim um simples desabafo. Fiquei pensando atordoada no que eu faria se fosse comigo. Operaria, claro, mas como eu suportaria levar a vida com a noção de que esse troço que me esquenta o peito no ápice das minhas emoções estancaria por alguns instantes. Isso na minha cabeça é extremamente aflitivo, não porque isso remete à morte, mas porque é o coração! Talvez (certeza) eu tenha uma visão poética exacerbada do mundo, mas o coração é tão responsável por tudo, ora. E quando eu soube dessa notícia fiquei preocupada com essa minha visão também, porque o cirurgião abre corações frequentemente – controla a circulação do sangue, deixa o coração parado, abre, costura, fecha e pronto. É frio. É normal.

E isso é uma loucura, porque mesmo sabendo que a cirurgia é algo tão comum, eu fico pensando que é o fim do mundo. Minha mãe, então...  Acredite, mas imaginei até que o meu irmão poderia perder todos os sentimentos que ele tem porque, afinal de contas, vão mexer ali naquele órgão tão romântico. Como se fossem dar um reset. Que besteira, Fernanda. Que besteira.

Agora é aquela coisa: tem que pensar com cabeça de médico. Vai dar tudo certo. Três dias de UTI, mais alguns dias no hospital e pronto. Tudo novo de novo!

É, eu definitivamente não consigo lidar com essa frieza toda. A cena do meu irmão dizendo pro doutor “vamos lá abrir o meu peito logo” me deixa chocada. Não aparento óbvio, mas a porcaria do MEU coração sente. Entende? Ops, porcaria não. Enfim.

Não gosto de me colocar no lugar dele. Me dá desespero. Acho que ninguém gostaria de estar no lugar dele, certamente.

É normal, mais uma vez.

A minha razão, o meu cérebro, todo o muito pouco conhecimento que eu tenho desta vida me deixa tranquila. Quem me pergunta, sabe: eu sempre respondo “tá tudo bem”. E realmente, está tudo bem. Tudo normal.

Só que o meu coração – que é irmão do coração dele – não relaxa e palpita alucinadamente quando é lembrado que daqui uma semana será feito um remendo n’outro. Esse papo de que o “sangue que circula em mim é o mesmo que o dele” faz sentido. O coração dele parece que, de fato, é o meu. Acho que o nome disso é solidariedade demasiada, fraternidade, amor... Coisas de um coração pr’outro.

Eu que vivia escrevendo textos melodramáticos dizendo que o meu coração estava remendado na linguagem mais emotiva possível agora recebo a visita da realidade novamente. E ela me disse que essas surpresas são assim mesmo.

Eu só volto pro chão assim, na base do puxão.
É normal.


  

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