domingo, 13 de outubro de 2013

Feito silêncio

Tenho tendência à melancolia, a ver beleza onde não tem e a formular versos sobre as formas geométricas das casas apagadas que passam rapidamente lá fora enquanto o trem segue. Gosto de observar e de fazer silêncio.

As pessoas são previsíveis. 

Preservo o vácuo desse espaço como se eu vivesse sozinha e quando chego em casa, me penduro na janela ou sento no chão apoiada na parede amarela. Coloco uma música, no caso Candle's Fire, e olho pro teto. Silêncio.

As conversas alheias não são previsíveis porque me tenho ausente.

Pelo olho mágico vejo os parentes eufóricos da vizinha. Devem ser parentes. Volto ao chão quase dormindo em cima do tapete e olho para a estante: Van Gogh, Beckett, Bowie, Lévi-Strauss, Hannah Arendt, Gabito, Nick Cave.

Queria devorá-los e isso todos sabem, inclusive eles.

Agora deu dez e vinte e três da noite do domingo e eu apoio a cabeça nos joelhos, me abraçando. A única coisa que vibra na sala é a parede laranja contrastando com a amarela e com a lentidão dos meus olhos. Pensa que pensar em você não cansa? 

A gente poderia se devorar e isso você sabe. O pretérito acusa a imperfeição.

Tenho pavor do que é banal e temo que isso o seja, mas foda-se. O tapete que acaricia os meus pés, o suor da nuca, a minha vista embaçada e a permanência do silêncio... Nada disso é banal. Lembrei do filme-documentário "Solidão" do Sokurov. 

O silêncio faz valsa com a minha respiração.







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