Despertei cautelosamente, evitando todo e qualquer rangido da velha cama remendada.
Me olhei no espelho com a cara inchada e com novas feridas nos lábios.
Na cozinha dei o primeiro resmungo do dia:
- Pra que deixar o café tão meloso, porra!
Decidi ir até a padaria tomar meu oxigênio. Esfreguei bem os olhos, forcei a vista e vi no relógio: 6:38h.
Padaria já estava aberta.
Coloquei uma calça, o tênis e a velha camisa.
No caminho encontrei aquele rapaz com cara de Weezer, também estava com uma camisa larga.
O cabelo e o óculos lhe deixavam com cara de estudante de jornalismo dos anos 90.
Sempre que nos vemos, a expressão dele me revela que a timidez não o deixa dar um fracassado oi.
No balcão da padaria pedi meu cardápio de sempre e fiquei fantasiando o futuro do jovem policial que ali havia parado para fumar um cigarro. Era noivo, pela aliança.
Café tomado, voltei para casa.
A porta estava trancada, o habitante bipolar já tinha acordado.
Abriu a porta e pediu para que eu a trancasse de novo.
Fui para meu quarto e liguei a teledesgraça.
As mesmas notícias matinais, previsão errada do tempo e reportagens inúteis sobre conserva de feijão.
Desliguei e peguei o livro queridinho para continuar a leitura. Página 69, penúltimo parágrafo:
"Caminhei oito quilômetros pela Colfax até minha confortável cama no apartamento. Major teve de me deixar entrar. Eu me perguntava se, neste instante, Carlo e Dean estariam dialogando, de coração a coração. Mais tarde eu teria a resposta. As noites de Denver são amenas, dormi feito uma pedra."
Imediatamente lembrei de um amigo ao ler esse trecho.
Engraçado, dá para encaixá-lo na narrativa e fazer do livro um filme imaginário. Perfeito.
Li até a parte 2 e me cansei.
Fui até a janela, chovia.
Deitei na cama com um mal estar gigantesco no fígado, o que era de costume graças ao café.
Fechei os olhos e comecei a pensar e imaginar uma situação perfeita.
Do jeito que eu queria, com quem eu queria.
Isso sempre aliviava meu tédio e minha solidão.
O tempo costumava passar.
Virei de lado e liguei o rádio. De manhã tocam boas músicas.
Eu não estava com vontade de ouvir Led Zeppelin.
Queria ouvir Beethoven.
Desliguei o rádio e virei para o outro lado.
Voltei a fechar os olhos, cantando "idler's dream" baixinho...
A introdução do meu sonho estava feita.
Adormeci.
moral da história: o café feito em casa é sempre mais forte do que o pronto da esquina.
Um comentário:
Gostei desse café! Se pôr acuçar estraga. Poque eu gosto é do amargo.
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