domingo, 13 de novembro de 2011

Como cuidar de sua vida

É o choque da manhã que me assusta e a solidez do ontem, já fixa e sem possibilidade nenhuma de ser consertada. A ideia do "nunca mais" não me apavora, mas aperta meu coração que se redime com o que pode vir. Não tenho muito o que fazer agora, nunca tenho. Esse papo de café já não é tão bonito quanto antes, quando eu achava que se ficasse aqui sentada lhe bebendo surtiria algum efeito. Já ganhei vários, isso é certo, mas hoje em dia nem a porta da geladeira aberta me alerta. 
Evito ao máximo ter esses encontros existencialistas, até porque prefiro aceitar que não vivi porcaria nenhuma pra me pegar por horas fazendo aquilo que pode ser chamado de clichê, não sei. Devo ter me acostumado mal com essa história de ouvir música e atualmente, beber vinho. Será que a vida é dividida em fases por bebidas? Eu estava tão firme e forte com o café e atualmente olho na lixeira e vejo três garrafas de vinho esperando para serem arremessadas lá dentro. Acho que o café define meu lado racional e o vinho, o lado emocional. Um me desperta pra vida e outro me amolece abrindo porta para todos os sentimentos possíveis. Experimenta tomar um gole e abraçar quem você ama depois. 
Voltando pra questão da minha indignação conformada, estava eu numa festa e papeando com uns amigos quando um deles vira pra mim e fala:


- Se eu pudesse dar o prêmio de melhor gosto musical do facebook, eu daria pra você.
- A única coisa que eu faço da vida é ouvir música.
- E reclamar.


Rapaz, aquilo ficou na minha cabeça. Ficou justamente porque no dia seguinte eu ouvi outro amigo, durante um café, dizendo:


- Como pode? Você tão novinha e tão amarga?


Parando pra pensar, eu passo 80% da vida observando, quieta, na minha. Os outros 20% é falando o que eu acho sobre o que vi. Tá certo que eu ainda vou viver coisa demais, mas essa maioria é coisa de outro mundo e o que me resta é lamentar. Sai uns sorrisos, lógico. Uns momentos dignos de 18 anos. Certamente eu vou me achar ridícula quando ficar velha e lembrar que resmungava ouvindo Chet Baker e disparando fumaça no céu preto da filosofia enquanto choramingava as consequências de hoje em dia. 
Talvez, se eu morresse e ficasse sabendo que isso aconteceria em determinada hora, as coisas boas iriam se sobressair e levando isso em consideração, eu daria destaque para os meus momentos de velharia. Os meus sofrimentos de quem fica um pouco de pé redondo e começa a dançar e cantar na rua, abraçada com as amigas e sendo carregada de ponta cabeça pela avenida, pedindo clemência e suplicando pela vida do meu óculos. Optei pelo caos e é isso. Nada pode mudar porque esse bendito caos já veio pelo cordão umbilical. 
Ah... e o amor ein? Taí uma coisa que eu vou deixar no meu testamento pra todo mundo. Isso não é papo de hippie não é só porque eu considero isso a melhor coisa do mundo depois que descobri que ele pode sim ser recíproco. Sentada no posto de gasolina, dando risada das tragédias, provavelmente no oitavo filtro vermelho  enquanto alguém só faz carinho. É bom. Não precisa ser aquele amor de casal, mas... Esse de toque só. Ou a preocupação.
A questão é que a vida é amarga apesar de todos esses detalhes doces. Não depende de você acreditar no "poder das flores". Aqui em São Paulo, por exemplo, eu ainda me choco demais com a realidade. Não cheguei no estágio de ignorar e seguir em frente, de dizer "tsc, pára de olhar". Nessa semana eu estava no intervalo da faculdade falando sobre a Veja (a revista mais odiada pelos historiadores) para variar com o professor de Medieval que gentilmente tirou um guardanapo do bolso e secou a parte da mureta pra eu sentar, e eis que aparece uma moça que era medonha, pedindo esmola. Ela me lembrou 'a mulher mais linda da cidade' do Buk na hora. Corpo frágil, vestido laranja rasgado, judiada, com uma espécie de alergia nos ombros e os pés deformados, já num estágio de podridão. Não que eu tenha pena, mas aquilo pra mim é a representação da calamidade. A forma "querida" que o professor negou a esmola fez eu me sentir meio novata no mundo. Parecia que ele estava negando um gole de café. Não, não sou hipócrita mas vocês entendem o que eu quero dizer? Óbvio que eu não vou parar de comer porque alguém tá passando fome e nem vou deixar de dormir porque existem milhares de pessoas passando frio nas ruas, só que quando eu dou de cara com isso ainda me sinto meio perplexa e isso só viabiliza o meu recuo. Pego os meus problemas e resolvo vivê-los e aceita-los assim.

2 comentários:

nádia c. disse...

"A questão é que a vida é amarga apesar de todos esses detalhes doces." encontrei minha resposta =]

Anônimo disse...

Eu leio seus textos e sempre me identifico. O pessoal também estranha que sou um tanto amarga e tenho um jeito ácido de encarar as coisas, apesar dos 17 anos.
Abraço!