segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Isso passa

Há momentos em que o azul do céu parece cantar um dia bonito para chamar nossa atenção, mas é coisa breve porque a intensidade dos dias reais nos chacoalha pelos ombros e balança tanto nossas cabeças com a intenção de nos fazer esquecer que existe cor, música e tranquilidade sob os corpos que a beleza despenca e cai, virando sujeira debaixo dos pés.
Em uma das estações que mais frequento, a de Pinheiros, há um piano... Desses bem bonitos e classudos que qualquer um pode sentar e tocar para passar o tempo. Acredito que 90% das vezes que presenciei ele sendo tocado, era um velho, mesmo que sem saber tocar direito, concentrado e determinado a aprender nota por nota. Os jovens como eu, seguiam reto. Alguns zombavam da atitude do senhor de ir até o piano como se estivesse na sala de sua casa, mas eu sempre admirava esse (já) compromisso dele com o pedaço de madeira cantante.
A estação é fresca e judia do corpo porque sabe que lá fora há um sol desses que a princípio dá a impressão de que nos cegará. Arde os olhos mais que qualquer outra parte do corpo e os primeiros 15 segundos são torturantes. É como se o dentista deixasse aquela luz terrível escorregar para nossa visão em vez da boca e você ficasse desesperado pra avisá-lo, mas não pode porque está anestesiado. Enfim, eu caminho escutando qualquer música e achando engraçado como os homens se esforçam para ver uma bunda qualquer que passa.
Na verdade acho engraçado várias coisas do dia-a-dia, além das bundas. O fato de que algumas pessoas não têm senso de direção e vão ziguezagueando na minha frente, as vezes até desfilando é o que mais me incomoda. Imagino que sejam todas retardadas. Aliás, é normal falar alto ao celular dentro de um espaço pequeno com pessoas desconhecidas ouvindo? Devo ter algum problema social porque sinto-me constrangida presenciando tal situação. E quanto a faculdade? Por que todo mundo tenta demonstrar que sabe tudo? Até mesmo os professores... Por que se limitam tanto a um doutorado? Sabe, foda-se. Eu prefiro acreditar que sou burra e que ainda não sei nada (na intenção de aprender) do que me limitar a uma maldita tese. O grande problema dos outros é que eles acreditam que a morte é ilusão, ai vivem de qualquer jeito. Isso é algo imposto pela sociedade, claro, já que a vida automática nos obriga a pensar "ah... esse negócio de morrer nunca vai acontecer comigo, é papo furado", não com essas palavras, mas nesses moldes. 
Tem que viver, sentir e aproveitar. O vencedor do prêmio nobel da Física não é totalmente inteligente, nem o Obama, muito menos o Bob Dylan. Ninguém que se define intelectual é inteligente. 
Um dia a luz apaga e não vai ter sol pra arder minha visão, muito menos piano mal tocado pra ouvir. Me incomoda a ideia de ter que ser razão razão e razão o tempo todo. É muito bom, lógico, mas isso deixa a gente burro. Eu vivo fugindo da sujeira dos meus pés e torcendo pro céu cantar todos os dias, sendo bonitos ou não.

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