Introdução
O início da Primeira República significou para o Rio de
Janeiro uma corrida contra o tempo perdido em relação às desenvolvidas cidades
europeias, como Paris, que por muito tempo serviu de exemplo à cidade carioca.
Falar em imperialismo nessa época era lembrar-se de atrasos, de um passado que
se fazia de tudo para ser apagado. A cidade, junto com o prefeito Pereira
Passos, viu-se na obrigação de seguir os moldes europeus.
“A expressão “regeneração” era por si só esclarecedora do espirito que
presidiu esse movimento de destruição da velha cidade, para complementar a
dissolução da velha sociedade imperial, e de montagem da nova estrutura
urbana”.
(SEVCENKO, Nicolau p. 31)
Nesse projeto nos cabe compreender através do
posicionamento de Paulo Barreto em relação à produção do novo modelo urbano
carioca, como isso afetou as classes sociais, principalmente as mais populares,
já que a modernização era destinada à elite. O que torna o escritor mais
atraente ao ser analisado é que ele acompanhava as duas faces sociais. Na
crônica “Os Cordões” publicada em 1906, ele descreve de maneira rica uma das
festas comemoradas pela camada mais humilde da população.
“Os cordões são os
núcleos irredutíveis da folia carioca, brotam como um fulgor mais vivo e são
antes de tudo bem do povo, bem da terra, bem da alma encantadora e bárbara do
Rio”.
Um exemplo que
representa bem essa afirmação de que a cultura era um direito da alta sociedade
é o fato de que a capoeira, elemento que está presente em nossa história desde
o século XVI, tornou-se patrimônio somente em 2008, ou seja, os resquícios de
desprezo com a cultura popular estão presentes até os tempos atuais.
Em contraponto,
vale lembrar que Paulo Barreto teve uma juventude cercada de concepções
naturalistas e positivistas que foram rompidas após seu contato com a art nouveau e sendo mulato e
homossexual, atacava fortemente a elite burguesa. Isso acaba criando uma
contradição em termos, mas facilita entender porque o escritor vivenciava o
alto e o baixo da sociedade carioca.
Relatando um
pouco sobre o impacto da República do ponto de vista de um senhor cocheiro que
viveu a ascensão e a queda do imperialismo brasileiro, o personagem lamenta na
crônica “Velhos Cocheiros”:
“A República trouxe a
Bolsa, uma porção de cocheiros estrangeiros, uns gringos e ingleses de cara
raspada, com uns carros que até eu nem lhes sabia o nome!”.
E mais tarde na
crônica “A Futilidade de Informações e os Seis Ministros”, ele faz uma crítica
à população, chamada aqui de público.
“E com essas imensas
futilidades tem a certeza de que o público todo, ávido e nervoso, se preocupa
muito mais com o modo de passear do ministro que com o seu plano, aliás, sempre
irrealizado, de salvação do país”.
É de se saber
que apesar de todo esse posicionamento sócio-político ativo, Paulo Barreto
também relatava em suas crônicas um desfrute da vida moderna e elitizada como
fica evidente na crônica “Gente do Music Hall”.
“O cassino palpitava
[...] A sala sob a clara luz das lâmpadas elétricas, acendia-se ganias
luxúrias. Senhores torciam bigode com o olhar vítreo, as damas envolviam os
braços nas plumas das bodás com um ar mais acariciador. Nós estávamos todos. Na
orla dos camarotes, pintados de vermelho, pousavam em atitudes de academia,
expondo vestidos de tonalidades vagas e anéis em todos os dedos as mais
encantadoras criaturas da estação”.
Podemos
classificar as crônicas de Paulo Barreto através das seguintes temáticas:
modernidade, religião, manifestações culturais, condições de vida, política,
cidadania, nacionalismo, História e gêneros masculinos e femininos, mas
especialmente nesse projeto será abordada a relação do progresso urbano do Rio
de Janeiro com as manifestações culturais através dos escritos que relatem o
ponto de vista do escritor sobre o alto e o baixo da sociedade carioca
recém-republicana, contextualizando historicamente os acontecimentos
envolvidos.
Aguardem cenas dos próximos capítulos.
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