quarta-feira, 28 de março de 2012

O alto e o baixo da sociedade carioca da Primeira República através da visão do cronista João do Rio


Introdução

O início da Primeira República significou para o Rio de Janeiro uma corrida contra o tempo perdido em relação às desenvolvidas cidades europeias, como Paris, que por muito tempo serviu de exemplo à cidade carioca. Falar em imperialismo nessa época era lembrar-se de atrasos, de um passado que se fazia de tudo para ser apagado. A cidade, junto com o prefeito Pereira Passos, viu-se na obrigação de seguir os moldes europeus.

“A expressão “regeneração” era por si só esclarecedora do espirito que presidiu esse movimento de destruição da velha cidade, para complementar a dissolução da velha sociedade imperial, e de montagem da nova estrutura urbana”.
(SEVCENKO, Nicolau p. 31)

Nesse projeto nos cabe compreender através do posicionamento de Paulo Barreto em relação à produção do novo modelo urbano carioca, como isso afetou as classes sociais, principalmente as mais populares, já que a modernização era destinada à elite. O que torna o escritor mais atraente ao ser analisado é que ele acompanhava as duas faces sociais. Na crônica “Os Cordões” publicada em 1906, ele descreve de maneira rica uma das festas comemoradas pela camada mais humilde da população.

“Os cordões são os núcleos irredutíveis da folia carioca, brotam como um fulgor mais vivo e são antes de tudo bem do povo, bem da terra, bem da alma encantadora e bárbara do Rio”.

Um exemplo que representa bem essa afirmação de que a cultura era um direito da alta sociedade é o fato de que a capoeira, elemento que está presente em nossa história desde o século XVI, tornou-se patrimônio somente em 2008, ou seja, os resquícios de desprezo com a cultura popular estão presentes até os tempos atuais.
Em contraponto, vale lembrar que Paulo Barreto teve uma juventude cercada de concepções naturalistas e positivistas que foram rompidas após seu contato com a art nouveau e sendo mulato e homossexual, atacava fortemente a elite burguesa. Isso acaba criando uma contradição em termos, mas facilita entender porque o escritor vivenciava o alto e o baixo da sociedade carioca.
Relatando um pouco sobre o impacto da República do ponto de vista de um senhor cocheiro que viveu a ascensão e a queda do imperialismo brasileiro, o personagem lamenta na crônica “Velhos Cocheiros”:

“A República trouxe a Bolsa, uma porção de cocheiros estrangeiros, uns gringos e ingleses de cara raspada, com uns carros que até eu nem lhes sabia o nome!”.

E mais tarde na crônica “A Futilidade de Informações e os Seis Ministros”, ele faz uma crítica à população, chamada aqui de público.

“E com essas imensas futilidades tem a certeza de que o público todo, ávido e nervoso, se preocupa muito mais com o modo de passear do ministro que com o seu plano, aliás, sempre irrealizado, de salvação do país”.

É de se saber que apesar de todo esse posicionamento sócio-político ativo, Paulo Barreto também relatava em suas crônicas um desfrute da vida moderna e elitizada como fica evidente na crônica “Gente do Music Hall”.

“O cassino palpitava [...] A sala sob a clara luz das lâmpadas elétricas, acendia-se ganias luxúrias. Senhores torciam bigode com o olhar vítreo, as damas envolviam os braços nas plumas das bodás com um ar mais acariciador. Nós estávamos todos. Na orla dos camarotes, pintados de vermelho, pousavam em atitudes de academia, expondo vestidos de tonalidades vagas e anéis em todos os dedos as mais encantadoras criaturas da estação”.

Podemos classificar as crônicas de Paulo Barreto através das seguintes temáticas: modernidade, religião, manifestações culturais, condições de vida, política, cidadania, nacionalismo, História e gêneros masculinos e femininos, mas especialmente nesse projeto será abordada a relação do progresso urbano do Rio de Janeiro com as manifestações culturais através dos escritos que relatem o ponto de vista do escritor sobre o alto e o baixo da sociedade carioca recém-republicana, contextualizando historicamente os acontecimentos envolvidos.

Aguardem cenas dos próximos capítulos.

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