terça-feira, 13 de novembro de 2012

Poeta paulista

Dureza é a vida do poeta que vê sentimento em tudo e não despreza nem a pedra no caminho. Lê solidão na partida dos trens velhos e se sente absorto na Ladeira Porto Geral. O poeta que descansa no Largo do Café presta atenção na arquitetura dissonante que há ao seu redor e imagina os amantes no começo do século passado pendurados nas varandas -- as sacadas apaixonam mesmo empobrecidas pelo tempo. 
O poeta sofre com a interferência repentina de outrém que o lembra como é sólida a razão e depois se arrepia com a visão de um velho em frente da igrejinha na Praça do Patriarca. Os sambas que recheiam a São Bento estimulam o gosto da nostalgia e o boêmio que lhe pede três reais para a condução carrega nos olhos a ânsia por mais uma dose de cachaça. Toda a miséria dança na Praça da Sé acompanhada por pessoas afogadas em sua própria solitude que rejeitam o abandono. O poeta anda com o cigarro na mão direita para trás e sofre com tanto sentimento atribuído ao longo do dia. Sua solidão não aceita a paz como condição de vida: se não doer é porque não está vivendo.

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