domingo, 23 de dezembro de 2012

Sem título III

Não é o fim do mundo que me incomoda: é a indecisão - que não depende de mim, o que é pior ainda. Aliás, não depende de ninguém porque já está decidido na verdade, mas é o fim, não do mundo. É o fim de algo que parece nunca acabar e que nunca começou, porque é intangível. Todo sentimento é assim. Não cabe nas mãos, muito menos no coração. Transborda e soa como mentira: não existe.
A vontade é súbita e logo cai no esquecimento momentâneo, porque eu aprendi que a memória vale mais do que a lembrança. O fim do mundo não existirá, mas as pessoas dentro dele sumirão. E isso me inclui e é por isso que eu não sei o que é definitivo, talvez o nada. O amor nunca será eterno; qualquer outro não será. A vida é súbita e eu tenho tantas vontades aceleradas. Não há literatura que resolva esse problema, nem música. Eu sento, converso, a gente se comunica subjetivamente... É como a Laura diz: "Será que precisa sempre, de língua saliva e dentes pra se transmitir?"
Não, não precisa sempre. Na verdade quase nunca. Tendo olhos e suspirando já resolve e os seus suspiros de quem perdeu a graça são consumíveis e comunicáveis - cortantes. Os seus sorrisos não me motivam a sorrir de volta, só a lamentar e eu fecho os olhos a noite, consciente de que esses tais sorrisos maldosos não acabarão com o fim do mundo, mas sim comigo.

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