A Sala Azul de Trent Park (1934) - Winston Leonard Spencer Churchill |
“...por que me sinto assim, se tudo brilha assim? quero sair daqui, longe de mim.”
(Bárbara visitando Adanowsky)
(Bárbara visitando Adanowsky)
Já te disse que gosto de janelas largas, dessas que
proporcionam certa aflição quando alguém, no caso eu, se apoia pra ver se há
algum rabisco no céu? Tenho certeza que já te contei isso. A dimensão lá fora
me toma num grau tão exacerbado que qualquer besteirinha daqui de dentro me
chama atenção. Me pego constantemente olhando fixamente para o chão, ou para os
detalhes do tapete enquanto o acaricio com os meus pés.
Tenho dentro de mim a sensação de que a qualquer instante
me encontrarei suspensa e inerte a este lugar.
Acredito que seja o cansaço. Meus olhos pesam, os suspiros
não têm sentido, essa sala pequena se projeta distante todas as vezes que sento
aqui e o que eu penso muda de direção – nunca se estabelece apenas em você.
Já pensei em solidão, doença do corpo, da alma, preguiça, crise
existencial e tudo isso não desemboca em nada. Vai ver é leseira crônica que
dói, mas não sei em qual parte. É um desencanto pontual e chatíssimo.
O que me satisfaz é a obsessão pela
janela. O criado-mudo foi colocado ali para precaver qualquer vício e o vaso
colorido resgata meus sentimentos perdidos que um dia, quem sabe, eu organize.
Há também aquela hipótese da
desvalorização: isso é fase. Fase que perdura há um tempo, desde que eu acordo
até a hora de dormir – um curto intervalo, tragicômico.
Melancolia.
Quando tenho consciência da existência
do tempo, ele se lambuza suavemente entre os meus dedos. Sinto cada segundo
passando porque fico aqui sentada, achando que você está logo ai na minha
frente me ouvindo. E é de tanto eu imaginar que o real nunca acontece, já que a
vida é tragicômica. Não tem jeito.
Se a cortina balança, já me anseia o
choro do inédito porque são estes instantes imbecis que me despertam da alienação
que é amar você.
O amor só aliena, sutilmente e
covardemente. A rotina dos passos curtos e das vozes altas cura. Ou seria o
contrário?
La melancolié.
Nenhum comentário:
Postar um comentário