sexta-feira, 3 de maio de 2013

Televisão: o abrigo do mundo às avessas



Desperta em mim uma tristeza cada vez que me deparo com a manipulação que existe na televisão brasileira. É uma tristeza revoltada que não se conforma com a tamanha lavagem cerebral que é conduzida através de uma mídia que alcança milhões de pessoas, principalmente crianças.

Um professor meu levou pra sala de aula um vídeo que em poucos minutos virou um aperitivo do absurdo, do circo de horrores, do vaudeville contemporâneo. A ideologia de quem está por trás das câmeras personificada através do que acaba sendo naturalmente engraçado, com tendência ao ridículo. A representação da mulher como algo ilusoriamente independente; representação refletida na violência contra a infância quando nos deparamos com crianças, na maioria meninas, querendo ser mulher antes do tempo. O negro representado no programa Zorra Total com aquele personagem ABSURDO de tão ruim chamado "a cara da riqueza" - alguém já parou pra pensar que uma criança negra assiste aquilo e logo se reconhece daquela forma como algo feio, ignorante, sem educação, totalmente estereotipada? Existe também a justificação da alienação pelo rico, vide Ticiane Pinheiro e sua performance pífia, ridicularizando o que saiu da periferia. Tudo é graça! Tudo é natural! Será? A questão não é moralista. Aprendi que não devemos julgar a priori o efeito, mas sim a causa. 

A violência explícita dos programas que seguem o molde "Cidade Alerta": eles afastam o público do real, da violência da sociedade. Os casos são tratados de forma isolada como um monstro ficcional. Isso nós vemos hoje em dia quando queremos discutir a questão da redução da maioridade penal (que eu sou contra) e somos simplesmente calados pelo olhar individual e não coletivo.

As mídias têm um poder tão grande, enquanto instituição, e na maioria das vezes estão ali apenas para nos bestializar, para confirmar a desvalorização do que há de humano em nós e para intensificar a valorização do material. Isso fica tão claro nas propagandas de margarina quando a família fica desfocada, ou quando as propagandas colocam um bebê para dirigir um carro enquanto outro pede carona. O que é isso?

 




O desejo contrasta sempre com a realidade de muitos e a mídia (leia-se principalmente a televisão) faz isso de maneira perversa! E não faz sem razão. Atrás de tudo isso existe uma pessoa com determinada ideologia e modo de ver a sociedade. Tudo é intencional e esqueça esse negócio de neutralidade. Esqueça. Ah, esqueça também a ideia de que "a fernanda é uma hipócrita e não assiste televisão". Eu assisto, claro, mas é fundamental assistir com um filtro, sabe? É mais fundamental ainda não assistir APENAS televisão. 

Lembro de Christopher Hill quando ele afirmou que o mundo está de ponta cabeça depois das revoluções burguesas. O mundo, meu caro Christopher, continua assim até hoje (do século XVII, com ápice no XIII até o XXI). A TV, com a manipulação dos homens que enxergam a vida apenas com os olhos de um predador com sede cega de ambição, é o abrigo do mundo às avessas. É o oposto da alma.

E é como eu costumo dizer: toda as vezes que eu percebo essas coisas, eu saio correndo pra algum livro, alguma música, algum quadro... E não por ser chata ou algo assim, mas por sentir necessidade de me enxergar essencialmente humana. Isso deixa a gente sensível, (in) felizmente. 

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