sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Desabafo esquerdino

Tenho um passado mutilado pelo gosto do atraso
que não se reconhece pelo topo que o pariu
cheio de descaso, tarado pela costa territorial
e pelo flagelo do açoite que sangra até hoje
a favor da expansão do capital
que desqualifica o condicionamento humano
e recria como se fosse também produto o irracional.

A civilização é uma falácia nesse lugar:
ela teme e se isola do que deveria ser social
e veste trajes teatrais para legitimar sua vida de plástico
como se não fosse dotada de tamanha sujeira
debaixo de suas marcas,
dentro de seus carros,
em seus condomínios fechados.

A cidade,
esse invento efervescente cheio de descuido,
abriga de tudo:
madames, padeiros, mendigos, carteiros,
professores, putas, doutores, pastores,
e um tesão enraizado pelo costume de um narciso oprimido
acostumado com a obrigação de ser espelho do alheio.

O fetiche dessa sociedade ao avesso é uma epidemia constante:
é orgasmo dissimulado
afeito ao estupro de almas quase pálidas
salvas pela resistência
do que ainda é amor contestado
juntado aos trapos de uma dignidade que se arrasta,
que esmorece sempre calada
culpada pelo arcaico disfarçado de proeza
que é vomitado por uma classe subvertida ao preço.

Tenho pra mim que o pessimismo,
dado em goles de desassossego,
é o único meio de sobreviver entre tanto desprezo

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