quinta-feira, 27 de março de 2014

cru

I

o desejo golpeado agora só vê
estilhaços de quem eu tocava
a cada curva [melada] com meu corpo
e do topo, na janela sem reflexo,
meu torso intacto indagava pelo seu
que oscilava entre mentira, mitologia
e anseio petrificado pela ausência contínua.

II

ao redor do balcão
eles são cinco:
um tomba
outro me olha
tem o paletó largo.

sinto cheiro de ovo frito
sinto vontade de desabar
sinto vontade de voltar pra você.

chuva que esfarela me embaça
o miolo do meu pão está cru
e minha camisa fede.

conto minhas moedas para o trem
escarro.

tchau.

III

o ser nada delira
transita entre os catálogos de concreto
com seu corpo de alga
vazia alma lançada no ponto exato
onde fica o monumento do tórax
baleado.

as pesadas omoplatas
talhadas antes no corpo ereto
a nuca suportada por fios de tensão
os dedos farejando carne.

cada deformação do infinito traçado da pele
desencadeou o ser nada
no acumulo de protozoário
envolto na carcaça do amor.

IV

cada osso meu te aponta.

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