I
o desejo golpeado agora só vê
estilhaços de quem eu tocava
a cada curva [melada] com meu corpo
e do topo, na janela sem reflexo,
meu torso intacto indagava pelo seu
que oscilava entre mentira, mitologia
e anseio petrificado pela ausência contínua.
II
ao redor do balcão
eles são cinco:
um tomba
outro me olha
tem o paletó largo.
sinto cheiro de ovo frito
sinto vontade de desabar
sinto vontade de voltar pra você.
chuva que esfarela me embaça
o miolo do meu pão está cru
e minha camisa fede.
conto minhas moedas para o trem
escarro.
tchau.
III
o ser nada delira
transita entre os catálogos de concreto
com seu corpo de alga
vazia alma lançada no ponto exato
onde fica o monumento do tórax
baleado.
as pesadas omoplatas
talhadas antes no corpo ereto
a nuca suportada por fios de tensão
os dedos farejando carne.
cada deformação do infinito traçado da pele
desencadeou o ser nada
no acumulo de protozoário
envolto na carcaça do amor.
IV
cada osso meu te aponta.
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