sábado, 28 de abril de 2012

Saudade simples

Eu tenho um sério problema com o passado porque sempre o acho bonito demais e de uma melancolia que às vezes até penso se realmente tudo aconteceu do jeito que a minha memória, de quem teima em romantizar a vida, projeta. 
Hoje de manhã fazia um frio danado que me puxava de volta pro sono enquanto a minha consciência gritava mais alto que o despertador para que eu acordasse e fosse cumprir minhas obrigações e não sei por qual motivo, mas assim que abri os olhos, senti um cheiro de pão quente e isso não acontecia há muito tempo! Lembrei de uma certa ocasião quando eu fui até a casa da Nathalia e não tínhamos dinheiro para comprar nada que se pudesse comer naquela noite. Era a república estudantil e gentilmente a política da boa vizinhança (tá certo que na época ela namorava o vizinho) funcionou muito bem com o a doação, ou melhor, empréstimo de pães de forma. Ela fez milagre e conseguiu matar nossa fome esquentando fatia por fatia e passando manteiga, acompanhada pelo café que invertia a ordem das refeições. E ficamos ali sentados na mesa (eu, Nathalia e o vizinho namorado) falando sobre qualquer coisa que certamente não era nada interessante, mas dava uma simplicidade tão bonita e talvez isso seja a saudade... Lembrar das coisas com melancolia e ter que se contentar com a ideia de que aquilo passou pra sempre. 
Essa imagem ficou na minha cabeça até o momento em que eu entrei no ônibus a caminho da faculdade e tive que me preocupar com o que cairia na prova de Patrimônio Histórico. Eu não sabia absolutamente nada. Me sentia estúpida e daria tudo pra poder continuar lembrando dos dias que eu vivia, simplesmente. 
É disso que sinto mais falta, acredito eu. Da vida simples, em todos os sentidos, desde o financeiro até aquele que me levava quase todas as tardes pra casa da minha avó. Eu confesso que quando paro pra pensar que atualmente visito minha avó raramente e que às vezes lembro de ligar pra saber como estão as coisas, me dá um nó na garganta. Se ela soubesse como eu gosto quando passo a tarde com ela tomando café e comendo bolo, enquanto o cachorro insiste em subir no meu colo e ela contando o que aconteceu no último capítulo das novela das oito... Evito pensar nisso, mas sei que quando ela se for sentirei uma saudade diferente, talvez a mesma que sinto do meu avô.  
A questão é que eu ouço muito uma frase do tipo "você ainda tem muito tempo pela frente" e eu fico tão desesperada porque eu não encontro esse tanto. Quando eu me dou conta, já passou e é assim que as coisas são. Eu temia cair nas garras do modern times, mas aqui estou eu... Cansada do mesmo manual. De manhã a faculdade, de tarde o trabalho e de noite a cama. Me falta tempo para ser eu! E isso é angustiante porque a vida é desse jeitinho. A única alternativa que eu encontrei foi ler, escrever e ouvir música porque essas coisas despertam o fiasco de ser humano que existe em nós e isso não é exagero. Não é possível que eu seja a única pessoa que se incomode a superficialidade humana! 

Um comentário:

nádia c. disse...

hoje eu estava tentando fazer um trabalho na sala, enquanto duas garotas ficavam rindo e cantando músicas idiotas o tempo todo e falando de unhas e blabla. eu disse a uma amiga "se ela se dessem conta de como são, elas iam querer se matar" o problema é que não se dão conta e sou a que pensa na morte. :/

"De manhã a faculdade, de tarde o trabalho e de noite a cama. Me falta tempo para ser eu! E isso é angustiante porque a vida é desse jeitinho. A única alternativa que eu encontrei foi ler, escrever e ouvir música porque essas coisas despertam o fiasco de ser humano que existe em nós e isso não é exagero. Não é possível que eu seja a única pessoa que se incomode a superficialidade humana! " TIROU AS PALAVRAS DA MINHA BOCA NÃO, DO MEU CORAÇÃO, DA MINHA ALMA.
Exatamente assim, exatamente.