Number 26 - Pollock (1949) |
Demoro pra me recuperar de uma pancada, confesso. Desmorono
no chão e custo a levantar por causa da dor na boca do estômago e quando
consigo olhar para o teto, a tontura me nocauteia de novo – é minha alma que
pesa.
Criei uma barreira aparentemente resistente contra tudo que
não acredito, mas ela parece ser penetrável à medida que vou levantando mais um
muro. Permaneço de pés juntos, mas meu cérebro paralisa e sinto tudo
incompleto. Sinto-me sempre incompleta e não me falta nada: tenho tudo por
perto para me alienar e escapar, inclusive os problemas mais tortuosos que
levam aos pedaços a minha fé.
Acredito nela. Sem essa cômoda ligação com o imaterial eu
não seria capaz de levantar da cama, muito menos de rir aos potes dos
comentários mais superficiais.
Fujo e procuro o que há de mais humano por aqui. O que há de
solução para recompor o pedaço que se foi. Normalmente o que se esvai anda de
mãos dadas com o que sinto e eu só reconheço a ausência porque tenho
consciência do furto – dedico minha pressão aos negativos que se somam, que se
elevam e imediatamente as minhas barreiras começam a ruir.
Pancada que dói: nocaute.
Se sente, logo dói.
O posteriori é a melhor parte do processo porque começo a
acreditar na força que os artistas exercem, na força que tem um céu ridículo
com nuvens borradas, nas paradas para respirar enquanto olho alguém metralhando
ordens; As conversas ao redor não fazem sentido porque se isentam desse papel.
Concluo que passo a maior parte do meu tempo ignorando esse detalhe e aceito naturalmente
a condição de receptora de informações que me cimentam.
A erupção ocorre de fora pra dentro, engulo tudo e esboço
uma satisfação que não me pertence para confortar as pupilas que me observam.
Os tapas sociais que levo nas têmporas não causam reação instantânea, apenas
traumas que servem como consolo contraditório para a próxima queda – fazem da
minha vida uma extensão de algo que eu desconheço. Se me expresso, sai o
absurdo do inimaginável passível de julgamentos cruéis que inferiorizam algo
tão humano como o sentimento, qualquer que seja.
E eu sinto. E dói.
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