terça-feira, 21 de maio de 2013

Status quo II

Number 26 - Pollock (1949)



Demoro pra me recuperar de uma pancada, confesso. Desmorono no chão e custo a levantar por causa da dor na boca do estômago e quando consigo olhar para o teto, a tontura me nocauteia de novo – é minha alma que pesa.

Criei uma barreira aparentemente resistente contra tudo que não acredito, mas ela parece ser penetrável à medida que vou levantando mais um muro. Permaneço de pés juntos, mas meu cérebro paralisa e sinto tudo incompleto. Sinto-me sempre incompleta e não me falta nada: tenho tudo por perto para me alienar e escapar, inclusive os problemas mais tortuosos que levam aos pedaços a minha fé.

Acredito nela. Sem essa cômoda ligação com o imaterial eu não seria capaz de levantar da cama, muito menos de rir aos potes dos comentários mais superficiais.

Fujo e procuro o que há de mais humano por aqui. O que há de solução para recompor o pedaço que se foi. Normalmente o que se esvai anda de mãos dadas com o que sinto e eu só reconheço a ausência porque tenho consciência do furto – dedico minha pressão aos negativos que se somam, que se elevam e imediatamente as minhas barreiras começam a ruir.

Pancada que dói: nocaute.
Se sente, logo dói.

O posteriori é a melhor parte do processo porque começo a acreditar na força que os artistas exercem, na força que tem um céu ridículo com nuvens borradas, nas paradas para respirar enquanto olho alguém metralhando ordens; As conversas ao redor não fazem sentido porque se isentam desse papel. Concluo que passo a maior parte do meu tempo ignorando esse detalhe e aceito naturalmente a condição de receptora de informações que me cimentam.

A erupção ocorre de fora pra dentro, engulo tudo e esboço uma satisfação que não me pertence para confortar as pupilas que me observam. Os tapas sociais que levo nas têmporas não causam reação instantânea, apenas traumas que servem como consolo contraditório para a próxima queda – fazem da minha vida uma extensão de algo que eu desconheço. Se me expresso, sai o absurdo do inimaginável passível de julgamentos cruéis que inferiorizam algo tão humano como o sentimento, qualquer que seja.

E eu sinto. E dói. 

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