domingo, 29 de dezembro de 2013

Poesia patologia



eu te peço perdão, poesia
pelo desprezo que tenho lhe dado
pelos olhos baixos quando te vejo por aí
pela constante náusea quando te encaro
pela pobreza de mais um poema
porque assumi uma ressaca de você que não cessa
e você continua a me derrubar,
a despencar zombaria dos tetos clericais
enquanto peso todo um continente em cima do papel
pra não desembocar em nada,
só em desespero.

onde há escrito, há você:
toda prosa,
semeando versos em colos alheios.
você se tornou um exagero
toda melada, rasa
como um prato sem fundo
dilacerada por toques banais
que só te usam pra foder
e fodem com você, comigo,
estragam meu domingo,
te dão nome e sobrenome
e te exibem numa vitrine,

não no papel,

mas numa porra de uma vitrine
pros outros olharem e dizerem:
que bela a poesia!

o artigo que te precede me irrita.

de mim você é coexistência
e de todo mundo
e todo mundo é o oposto:
é côncavo, com defeito
feito de carne, osso
potencialmente podre.

dos teus momentos mais bonitos
eu só recordo dos livros
servindo de asilo pra mim
que nunca aprendi a te colher
como quem te tem à la volonté.

fica tudo bem eu te publicar agora
escolher uma imagem sem cor
me assustar com o som do telefone que irrompe nossa conversa
e apertar o enter.



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fica tudo bem pra você, vadia.
a tua aura fica a me perturbar
noite e dia
e você fica em mim
como o alfinete de noites brancas
apaixonada por seu anti-heroísmo
que fulmina a esperança
de me livrar da tua ressaca
parasita das minhas lembranças.

Um comentário:

Antônio LaCarne disse...

fernanda, que lindos os teus poemas, estou encantado. são super inspiradores.